segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

o parto

29 de Janeiro, 40 semanas certas e o receio de prolongar a gravidez tendo em conta que a miúda era grande. Fomos, como combinado, às urgências, ter com a médica que me seguiu nas últimas semanas no Hospital de S. Francisco Xavier (a fantástica Dra. Lurdes Gonçalves), para ser avaliada. 

O toque dizia que ainda faltava, mas o CTG já acusava contracções. Eu ansiosa, a querer que fosse naquele dia, com aquela médica. Uma ansiedade louca, cansada de estar grávida, com vontade de a ter nos braços, a parecer maluquinha de cada vez que sentia uma contracção (será que é desta que pegam?).

As contracções, pouco ou nada dolorosas, mas com algum ritmo, fizeram com que ficasse. Fui dar uma volta de uma hora, a pé. 


A última fotografia grávida

Quando voltei, o colo do útero já estava mais molinho, mas ainda nada de especial. Fui internada e levaram-me para o bloco. Estava em início de trabalho de parto mas precisava da ajuda da ocitocina. Deviam ser mais ou menos duas da tarde. 

Tinha contracções, sem dor. Nada insuportável. Os anestesistas vieram a certa altura (a noção do tempo perde-se) perguntar se ia querer epidural. Respondi que por enquanto não precisava, não tinha dor. Fui fazer exercícios numa bola de pilates para ajudar as contracções e para ela encaixar.

O colo do útero já tinha dilatado mais um centímetro,  mas estava a demorar. Rebentaram-me o saco amniótico para acelerar a coisa e quase instantaneamente passei do 8 ao 80, no que toca a dor. Uma dor tremenda, de me fazer curvar toda sobre mim mesma. O João, que estava ao meu lado, quase que era mordido quando tentou falar comigo, tamanho o desconforto, o sofrimento. Não conseguia pensar. Sei que carreguei 3 vezes na campainha para me darem a epidural. 

Veio um enfermeiro e uma anestesista, calmos e queridos, que me ajudaram a relaxar e me deram a epidural sem que eu tivesse quase dor. 

De repente, estava no céu (filha, se me estás a ler, drogas só epidural!) Conseguia pensar outra vez, respirar, conversar. A certo ponto tinha a equipa médica comigo no bloco à conversa. Até de políticas de saúde falámos. Quase que me esqueci que estava ali para parir. 

O tempo foi passando, ia tendo contracções e, de repente, já estava com 8 cm de dilatação. Deviam ser umas seis ou sete da tarde. Aqui comecei verdadeiramente a perder a noção das horas e do tempo a passar e, só passado uns dias depois do parto é que me apercebi do que aconteceu. 

Basicamente, a bebé não estava na melhor posição, a apresentação da cabeça não era a indicada. Tive de me deitar de lado, com contracções, e fazer força, para ver se ela encaixava melhor. Isto demorou algum tempo, não sei quanto. Agora que olho para trás apercebo-me de que a equipa médica conseguiu manter a calma e não deixar transparecer nada, nenhuma ansiedade. Era o meu primeiro filho, para mim aquilo era normal. Sabia lá.

Hoje, sei que não foi inocente quando pediram a um dos médicos que estava de banco para não sair dali (estava fora do bloco, à porta, sentado). Afinal, era o médico especialista na utilização de fórceps. 

Pediram-me para fazer força em várias posições e eu fiz tudo o que podia e o que me pediam. Diziam que estava a ser uma linda menina e para mim tudo aquilo era normal, era assim mesmo.

Lá fora, no entanto, os nervos tomavam conta da família que estranhava a demora, visto que há uma hora atrás já o João tinha ido dizer que estava quase.

Estava quase mas demorou. Pediram ao João para sair. Tiveram de fazer uma episiotomia e ela foi tirada com fórceps kielland, que não só ajudam a puxar o bebé mas também a rodar-lhe a cabeça. Na altura, lembro-me de ver o médico com uma coisa enorme e metálica nas mãos e de não me aperceber que aquilo eram fórceps. 

Entramos num estado tal, que estamos a ver o que se passa à nossa volta sem assimilar a realidade. Não tinha dor, estava cansada de fazer força e estava como que a flutuar no tempo sem noção de nada. 

O João volta a entrar. Às 21:20 ela nasceu. A sensação de ela a sair de dentro de mim, tão estranha e impressionante, fez-me respirar de alívio. Só queria saber que estava tudo bem. Oiço dizerem que nasceu com 3975gr, e eu digo que me estou a sentir mal. Dão-me oxigénio e olho para ela, que está ali ao lado, com os enfermeiros. 

Ver os grandes amores da minha vida a olharem-se pela primeira vez, fez-me chorar. Já estava. Era real. Éramos três. 



A primeira fotografia dela.


Só me resta agradecer à equipa fantástica que esteve comigo neste momento tão marcante. Pela tranquilidade e serenidade que mantiveram ao longo de todo o trabalho de parto, não deixando transparecer ansiedade nem preocupação. À Dra. Lurdes Gonçalves, o meu muito obrigada. É inspirador encontrar alguém tão competente e tão humano como ela. 

Como nem tudo é perfeito, as únicas críticas que posso apontar são questionar-me sobre o motivo pelo qual não foi feita nenhuma ecografia antes do parto, e a episiorrafia que me foi feita e que acabou por infectar (faz-me confusão que com tantos pontos não receitem logo um antibiótico e indiquem um tratamento com pomadas). Com a ecografia talvez  se pudesse ter visto antecipadamente que ela não estaria na melhor posição e o sofrimento de ambas teria sido menor, eventualmente. Com o antibiótico e pomadas e uma sutura mais jeitosa, talvez se tivesse evitado voltar lá segunda vez para o corte e costura... 

De resto, cinco estrelas. É lá que quero ter um segundo filho (mas agora não quero pensar nisso, ok?)

5 comentários:

  1. Há 10 meses atrás, também pari no São Francisco Xavier, com o Dr Fernando Cirurgião, uma menina. Também fui fazer uma longaaaa caminhada para aquela mata em frente ao Hospital (ela tinha que nascer naquele dia) e fiz tantos agachamentos que dei entrada no bloco à 16h e ela nasceu às 17h17, parto normal. Epidural.. deram-me às 17h, as anestesistas estavam ocupadas no entretanto e eu berrei que nem uma cabra descontrolada os 40 minutos antes. A sorte é que foi rápido. Também mordi e ofendi o meu marido que se sentia envergonhado de eu ser a única aos gritos e a chamar nomes aos enfermeiros que não me traziam o raio do anestesista. Obvio que administrada 17minutos antes pouco ou nenhum efeito surtiu. E os pontos foram para lá de dolorosos. Mas adorei. Adorei o Hospital, as condições, o corpo clínico... tudo. Tinha uma experiência de cesariana, 20 meses antes, no hospital da Cuf Descobertas que odiei.

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    1. Olá! Obrigada pela partilha e ainda bem que correu tudo bem! O que fez com que não gostasse da cesariana na CUF?

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  2. Gostei do relato do seu parto, mt idêntico O meu! A minha Luísa nasceu no dia 30 de janeiro n mesmo hospital...a unica diferença que o meu parto teve do seu foi o resultado na cabeça da minha filha...eles deviam ter-me feito ecografia quando perceberam que eu ja tinha a dilatação feita à muito tempo e ela não descia...eu já não tinha força e o procedimento foi igual ao seu...resultado, uma fratura ocipital...dias na encubadora! Eu tive alta e vim p casa e ia para o hospital a toda a hora, os meus "milhares" de pontos rebentaram todos...se voltar a engravidar vou p privado! Bastava uma ecografia e nada disto nos tinha acontecido...eles que continuem a "poupar" nos recursos e vamos ver se continuamos a ter casos de sucesso como os nossos...as coisas podiam ter corrido mt mal! É triste...

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    1. Cátia, obrigada pelo comentário e um abraço. Imagino o mau bocado que passou, sobretudo com essa situação com a bebé pelo meio.

      A Cátia estava em que piso depois de ter a Luísa? Se calhar cruzámo-nos por lá...

      Enfim, de facto, há coisas que podiam ser evitadas. Mas se por um lado ali podem peca por defeito, acredito que nos privados pequem por excesso e por dá cá aquela palha partem para cesarianas...

      Muitas felicidades!

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  3. A maternidade pode ter os seu momentos de "dar em doida", mas é um encanto! =))

    http://agatadesaltosaltos.blogspot.pt/

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pinhões